Palavras
A palavra necessita o seu cuidado, quer ser lembrada, discutida e encontrada. Como moça jovem, a palavra quer ser casada, quer ser escrita. Até a palavra necessita seguir regras. A palavra detesta solidão e se lamenta quando esquecida. A palavra vivencia solidão até mesmo no dicionário quando cercada por uma multidão de palavras que não se percebem, não se comprometem.
A palavra é o véu do sábio e o coração da viúva que expressa na falta de palavra a desolação diante do desastre. A palavra é a cura da ignorância, a luxúria do letrado, a sentença do juiz. Tem palavra que é sagrada, mas também tem aquela que anuncia desgraça. A palavra é a expressão da verdade ou da mentira, dependendo, é claro, do contexto, do personagem, da intenção...
Já disse que a palavra necessita o seu cuidado, afinal é como gente: quer ser reconhecida e escolhida, dentre tantas outras, como o candidado a promoção. A palavra quer gerar frutos, ser derivada de um mesmo radical sempre que possível e conveniente, virar neologismo. A palavra quer ser escutada, aos berros ou ao pé do ouvido, não importa, desde que seja bem interpretada. A palavra quer ser entoada em prosa e em versos no ritmo da mais linda melodia. A palavra quer dominar o mundo, descrever mais paisagens, ser os olhos do cego.
A palavra é a materialização do abstrato, do intangível. É uma tentativa persistente dessa mania de escrever e de fazer nascer o sol cada dia mais bonito. É a tradução do pensamento, até daquele indecifrável, e também do sentimento mais indescritível. A palavra é a arma do justo, a expressão do artista, é a alma de um livro.
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